Você já teve dúvidas ou curiosidade sobre a ansiedade? Nestes vinte anos de trabalho como psicoterapeuta, é comum as pessoas ligarem para nosso consultório buscando esclarecimentos sobre este assunto.
As pessoas têm dúvidas sobre estarem padecendo algum transtorno de ansiedade e sobre as formas de tratamento.
E este é sim um dos padecimentos mais encontrados no trabalho em psicoterapia. Por isso neste texto pretendo apresentar algumas respostas para perguntas que são frequentes:
- Como posso saber se estou com ansiedade?
- É normal sofrer com ansiedade?
- Como saber quando é “normal” ou quando extrapolou a normalidade?
- Tem tratamento?
- A medicação é o único tratamento?
Primeiro vamos buscar compreender a definição deste fenômeno.
A ansiedade é um padecimento emocional que quando nos acontece não temos domínio sobre ele. Somos colocados no padecimento da ansiedade quando alguma coisa acontece em nossa vida de relações e nos empurra para a urgência pelo futuro, seja para ultrapassar uma situação de sofrimento ou desconforto, seja para chegar logo a uma situação de conquista.
Portanto tanto situações positivas como negativas podem nos empurrar para a ansiedade.
Exemplos positivos podem ser a notícia de uma gravidez, de um noivado, a aprovação para um novo emprego, ou o resultado positivo de um concurso.
Muitas vezes diante dessas e outras conquistas, entramos na urgência para que logo a conquista se efetive, e esta ansiedade envolve uma série de sintomas psicofísicos (palpitações, respiração ofegante, frio na barriga, dificuldade para se concentrar, tremor/tremedeira, dificuldades para adormecer, alterações no apetite, são alguns deles, que se reúnem a outros).
Há também acontecimentos negativos ou indesejáveis, que podem provocar a ansiedade.
São exemplos comuns, a possibilidade de uma demissão, a notícia de uma situação de saúde que precisará ser enfrentada, o rompimento de um relacionamento amoroso, entre outros.
Também nestas situações a pessoa entrará na urgência para ultrapassá-las, e padecerá os mesmos sintomas de ansiedade que padeceria em uma situação positiva.
A diferença que num caso ela deseja chegar com urgência na conquista e no outro a urgência é por ultrapassar a dificuldade encontrada.
Assim, a ansiedade é uma emoção que faz parte da nossa vida, como também entristecer-se, alegrar-se, apaixonar-se, irar-se, entre outras tantas.
Costumamos esclarecer para os pacientes que a saúde ou sanidade psicológica envolve uma oscilação emocional que dependerá dos acontecimentos com os quais estamos nos relacionando num dado contexto.
Há acontecimentos perante os quais é inevitável se entristecer, como a perda de um ente querido. Como há outros perante os quais entramos inevitavelmente na alegria, como o nascimento de um filho.
A partir desse ponto, você pode perguntar: mas se é normal ter ansiedade, por que as vezes as pessoas sofrem tanto e precisam de tratamento?
Para responder estas perguntas precisamos considerar dois aspectos: um deles é a frequência, duração e intensidade com que a pessoa está sofrendo de acessos de ansiedade e o outro sobre as causas ou determinantes da situação.
Em relação às causas ou determinantes, quando distinguimos que a pessoa está sofrendo de ansiedade em função de acontecimentos de seu contexto presente, constatamos que neste caso trata-se de uma ansiedade reativa.
Outras vezes, acontecimentos de sua vida presente provocam ansiedade, mas as razões (ou causas) estão no passado, e sendo assim trata-se de uma complicação psicológica.
Um exemplo ilustrativo, que é inclusive comum em psicoterapia, é quando a pessoa inicia um relacionamento amoroso e entra na ansiedade por logo defini-lo como sendo ou não um compromisso sério.
Nesta ansiedade, muitas vezes, a pessoa é empurrada para decisões precipitadas. Frequentemente quando descrevemos estas situações em psicoterapia e se verificam as razões (ou determinantes) desta ansiedade, constatamos que estas não estão apenas no presente (como estar apaixonado), mas resultam de um passado: experiências de decepção, rejeição, fracasso, medo da solidão, temor em repetir fracassos amorosos dos pais com as quais se sofreu durante a infância.
Neste caso não temos uma ansiedade reativa a um acontecimento presente, mas uma ansiedade constitucional, ou devida à estrutura de personalidade da pessoa. Assim para que ela possa resolver a relação com estes acontecimentos passados, precisará de apoio psicoterapêutico.
Quando uma pessoa nos procura para psicoterapia, apresentando acessos de ansiedade, torna-se necessário verificar a composição desses acessos para definir se temos uma situação reativa ou constitucional.
Outros aspectos que são verificados são a frequência, duração, composição e intensidade destes acessos. Porque mesmo sendo devido a acontecimentos resultantes de problemas no presente, ou seja, de situações reativas, a pessoa pode padecer acessos de ansiedade que saem do padrão da sanidade psicológica com uma frequência, duração e intensidade, que podem levar a pessoa para um processo de estresse ou estafa, e nestes casos a pessoa também precisa de ajuda psicoterapêutica.
E qual seria o tratamento adequado? Apenas medicação? Apenas psicoterapia? Para tratar e superar uma complicação emocional que envolve ansiedade, em primeiro lugar é necessário ter a segurança de que é esta realmente a situação, e para isso é fundamental um diagnóstico interdisciplinar.
Os sintomas da ansiedade as vezes ficam muito fortes e se confundem com sintomas cardiológicos ou endocrinológicos, por exemplo.
Então o cuidado na definição diagnóstica é essencial: a pessoa pode estar padecendo de ansiedade conjugada a alguma outra patologia e assim vai precisar de uma intervenção interdisciplinar.
Outro aspecto que precisa ser verificado para o fechamento do diagnóstico é se trata de uma situação reativa ou constitucional, que permitirá definir se o que precisa ser resolvido é a relação da pessoa com acontecimentos passados ou orientações para enfrentar uma situação presente específica.
Mas tanto num caso como noutro, a ansiedade é decorrente de um impasse em nossa vida de relações, e por isso, será resolvendo a nossa relação com estes acontecimentos que ultrapassaremos este padecimento.
Não existe medicação nenhuma que possa fazer isso por nós. Mas, isso quer dizer que a medicação não é necessária? Não. Muitas vezes a medicação pode ajudar, e é necessária neste processo, como uma muleta o é, para quem está com o pé quebrado, ou seja, para aliviar os sintomas e evitar o agravamento do quadro até que a pessoa se recupere integralmente.
Por isso, costumamos esclarecer que nestes casos, a medicação é uma espécie de bengala química, que pode auxiliá-la, até que, através do processo psicoterapêutico, a pessoa resolva seus impasses da vida de relações.
Esperamos que possam ter compreendido um pouco mais a respeito da ansiedade, e estamos a disposição para ajudá-la(o), caso necessite!